Retratar a riqueza e a complexidade da moda como arte, comportamento e expressão cultural é o objetivo do Feed Dog, festival internacional de documentários de moda criado há dois anos em Barcelona e que chega agora ao Brasil. O evento, que começa nesta quinta, 21, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, oferece sessões, debates e oficinas gratuitas. A curadoria é de Flavia Guerra – jornalista e crítica cultural que cobriu por anos assuntos ligados ao cinema e à moda no Estado –, que pinçou 13 longas e curtas para o festival, a maioria estrangeiros e inéditos por aqui.
Entre os mais esperados está Mapplethorpe: Look At The Pictures, que conta a história de Robert Mapplethorpe, fotógrafo provocativo e brilhante que fez de sua obra uma bandeira do movimento de libertação gay dos anos 1970 e inspirou uma geração de fotógrafos de moda.
“No meio cultural, há muito preconceito em relação à moda, mas, a partir desse tema, é possível filmar histórias maravilhosas”, diz Flavia. “Buscamos filmes que investigam como a moda se relaciona com o mundo, a cultura e a vida de todos. Tudo passa pela moda, e a moda passa por tudo.”
Outro documentário de destaque no festival é First Monday in May, sobre os bastidores da exposição anual do Costume Institute, do Metropolitan Museum of Art, em Nova York, com curadoria de Anna Wintour, editora-chefe da Vogue América. O filme acompanha de perto os preparativos para a exibição de 2015, que teve a China como tema central, desde o frenesi do processo de criação até o estresse pré-abertura, dando a verdadeira dimensão do que envolve um dos maiores eventos da moda contemporânea.
O longa retrata também o famoso Baile do MET, que marca a abertura da exposição e reúne a nata da indústria fashion e das estrelas de Hollywood, que cruzam o tapete vermelho com produções elaboradíssimas e fantasiosas, que são divulgadas à exaustão nas redes sociais, entram nos trending topics e influenciam as criações de luxo do mundo inteiro.
No lado oposto de todo esse glamour estão documentários como Out of Fashion, que revela os impactos ambientais da indústria da moda e as condições de trabalho da indústria têxtil em Bangladesh, e Bangalogia: The Science of Style, que está circulando por festivais importantes e mergulha no universo do “banga”, estilo de se vestir dos homens de Angola.
Entre as produções nacionais está Deixa da Régua, dirigido por Emílio Domingos, que retrata a vaidade do brasileiro por meio de salões de beleza de comunidades cariocas, e Fora do Figurino, que aborda a problemática da indústria da moda nacional, baseada em modelagens europeias e norte-americanas, ignorando o tipo físico das mulheres brasileiras.
Fora das telas, o destaque fica para as mesas-redondas que debatem os rumos da indústria no País, com convidados como Paulo Borges, idealizador da São Paulo Fashion Week, além de oficinas de processo criativo e costura. “Apresentar filmes é legal, mas o mais importante é aprofundar os temas abordados nas telas”, diz Marcelo Aliche, produtor do evento.
Os visitantes também poderão conferir uma mostra da Agência Fotosite, com imagens que ilustram os temas dos documentários. A editora Jussara Romão assina a curadoria. “A moda é mais do que o glamour. É necessário falar sobre a indústria, a sustentabilidade e a democratização que ela é capaz de oferecer”, conclui Aliche.
Cinemateca Brasileira. Largo Sen. Raul Cardoso, 207, telefone 3512-6111. Abertura 5ª (21/9). Entrada gratuita. Até 27/9
Fonte: Estadão