Roupas feitas de madeira ou de tecidos reciclados são uma crescente tendência na indústria da moda. Devido a crescente demanda por processos de fabricação mais sustentáveis, novas tecnologias em fibras naturais e recicladas atraem interesse global. Os volumes de produção de algodão convencional e poliéster virgem não podem continuar crescendo, devido ao grande volume de água e poluição que causam.

Embora os tecidos artificiais de viscose e rayon serem feitos da polpa da madeira, sua fabricação também é problemática, por causa dos produtos químicos altamente tóxicos utilizados na produção. Já o liocel é uma fibra de alta qualidade, cuja fabricação usa menos energia que a viscose e rayon, e o seu agente dissolvente de polpa de madeira não é tóxico e é reciclável.

O maior mercado da indústria de celulose continua a ser a fabricação de papel, mas a celulose solúvel está sendo cada vez mais utilizada na indústria têxtil, como uma alternativa ao algodão e poliéster. Pesquisadores do Centro de Pesquisa Técnica VTT e da Universidade Aalto na Finlândia, desde 2013 vem desenvolvendo um novo processo para transformar a celulose em uma fibra têxtil de alta qualidade, utilizando líquido iônico. Além de ser mais ecológico do que o processo utilizado na produção de viscose tradicional, a fibra têxtil produzida com a ajuda de solventes iônicos é bem mais forte do que a viscose. A tecnologia se chama Ioncell, um exemplo de bioeconomia.

A demanda por celulose solúvel para tecidos está aumentando globalmente, devido ao crescimento populacional e a grande necessidade de oferecer uma alternativa mais sustentável para a indústria têxtil. Com o processo do Ioncell, pode-se também criar fios de alta qualidade misturando polpa de madeira, papel velho e tecidos descartados de algodão.

Veja o vídeo da produção de fibras a partir do líquido Iônico:

A empresa finlandesa Metsä Fibre está investindo no conceito de bioprodutos, e em 2017 vai inaugurar sua nova fábrica, para fabricar o fio Ioncell, em parceria com a empresa japonesa Itochu Corporation, que tem uma rede de comércio global de fibras e fios, e assim conseguirem distribuir em larga escala a nova fibra têxtil de madeira. O Ioncell vai competir com o Tencel.

O processo do Ioncell estende abundantemente o ciclo de vida de fibras naturais. Lida também com a diminuição de recursos, aterros, produtos químicos perigosos, dependência direta da terra arável, e consumo de água.

Na Universidade de Deakin, na Austrália, foi desenvolvido um processo simples para separar os componentes das fibras de poliéster e algodão, nos tecidos mistos, usando líquido iônico. Foi esse um grande avanço para a reciclagem têxtil e de outros resíduos, já que o maior obstáculo para a reciclagem de roupas velhas e resíduos têxteis é pela maioria dos materiais serem compostos por fibras mistas de poliéster e algodão. Pois embora seja fácil reciclar algodão e poliéster individualmente, não é possível separar mecanicamente as misturas. Mas isso muda completamente com a introdução do líquido iônico (um solvente químico ambientalmente amigável que separa facilmente as misturas de poliéster/algodão).

O líquido iônico dissolve seletivamente o componente de algodão, com a vantagem de que o líquido pode ser reciclado e reutilizado. Dessa forma, o algodão pode ser regenerado e transformado em fibras ou utilizado como películas de celulose, como celofane. O poliéster recuperado pode também ser reciclado por fusão e reutilizado de outras formas, como garrafas de plástico ou fibras.

O novo processo não é limitado a reciclagem de produtos têxteis, mas também pode ser aplicado para a reciclagem de qualquer tipo de material biocompósito, incluindo os utilizados na indústria automobilística. A reciclagem química via líquido iônico somada a separação magnética inteligente desenvolvida pela Ioniqa Technologies, são exemplos da economia circular (um sistema regenerativo e restaurativo por intenção e design, com o objetivo de manter os recursos no seu nível mais alto de utilidade e valor, pelo maior período de tempo possível).

Veja um vídeo sobre economia circular e entenda mais sobre:

 

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